Moldes - Blusa com laço para criança

Bordados Portugueses - Bordado de Castelo Branco

No dia 30 de Julho celebra-se dia Internacional do Bordado e esta comemoração inspirou-nos a escrever sobre os bordados portugueses. 

Hoje vamos falar do bordado de Castelo Branco.


O bordado de Castelo Branco, também conhecido como o “Bordado Albicastrense” ou “Bordado a Frouxo”, como era antigamente designado.


Este bordado é também conhecido por “Colchas de Noivado”. À semelhança dos “Lenços dos Namorados”, representavam o enxoval das noivas da região e enfeitavam a cama dos desposados.


As “Colchas de Noivado” derivam das colchas orientais de influência Indo-Portuguesa dos meados do século XVI e século XVII, embora já existissem antes, mas muito mais simples, sem integrar a figura humana. Passado um tempo do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, e com as trocas comerciais que começam a existir, a influência da técnica, decoração e simbolismo próprios daquela “terra” começam a ser visíveis neste tipo de bordado. Passou assim a existir a figura humana, a referência aos sentidos e outros símbolos. Apesar de toda a influência, a forte apropriação pelo contexto beirão conferiu a estas colchas uma personalidade própria, mantida ainda nos dias de hoje.


Como suporte ao bordado é utilizada uma fibra natural, o linho, bordado com fios de seda natural, tingidos de diversas cores e tonalidades.


Neste tipo de bordado utilizam-se vários pontos, como o ponto de cadeia ou o ponto pé de flor. O ponto que ganhou o nome da cidade e que deu também origem a um dos nomes deste bordado foi o “ponto a frouxo”, que cobre maiores extensões, o caule ou as raízes da árvore da vida. Somente é recoberto o lado direito do bordado, pois a agulha atravessa o linho e volta a emergir bem junto a esse ponto, para deixar linha, praticamente, apenas nesta face do bordado. 


Só é possível bordar o linho, apenas se este estiver bem esticado num só bastidor.

Em relação à simbologia existente nestas colchas, os mais vistos são:

  • O cravo aparece como elemento dominante, espalmado ou de lado, de pétalas separadas e rebordos denteados, é flor resistente, ereta, símbolo da provocação, da virilidade.
  • peónia, o lótus, o crisântemo e o botão de ameixieira, muito populares na civilização chinesa, associadas respetivamente à Primavera, Verão, Outono e Inverno, são flores que vulgarmente podem ser observadas no Bordado. A Primavera é representada também pela magnólia.
  • A túlipa, flor recorrente no Bordado de Castelo Branco, existia com abundância nos jardins palacianos do País, principalmente nos da corte, e sujeita a grande reserva para evitar que a sua popularização lhe retirasse o carácter aristocrático tornou-se símbolo de riqueza e ostentação.
  • A Árvore da Vida nos Bordados de Castelo Branco, quando ladeada pelas figuras de um homem e de uma mulher, deixa transparecer os sentidos da sobrevivência, da renovação da vida; se aparecer conjugada com o pavão evoca a Eternidade e a Ressurreição. Caracteriza-se pela existência de um elemento central, assimétrico, que emerge de um conjunto de montículos, formados por diversos ramos ondulantes, revestidos de folhagens, flores e frutos, onde pousam aves coloridas. Nestes bordados o tema tem sido tratado de forma ingénua e criatividade notável, enriquecido com uma miscelânea de motivos exóticos e outros de graciosidade peculiar, provavelmente inspirados nas aves de criação doméstica e nos frutos dos quintais beirões.
  • A albarrada, termo árabe que significa vaso com duas asas, é um tema frequente no Bordado de Castelo Branco, tanto com a forma de elegante vaso de perfil compósito, como taça baixa e larga. Ligada ao vaso como símbolo da fecundidade, provavelmente inspirada na temática da Árvore da Vida de cariz oriental, aparece usualmente como contentor de um vistoso ramo de flores na zona central dos bordados ou colocada nas bissetrizes dos cantos. Surge também com frequência a preencher pequenos medalhões inscritos em toda a superfície da peça.
  • A representação de frutos é também recorrente, com uma vasta variedade formal e, tal como na temática florística, existem situações em que dificilmente os motivos são reconhecidos. A romã aplicada ao Bordado é tida como um significado amoroso na promessa de vida abundante.
  • ave com duas cabeças, com destaque para a representação da águia bicéfala, surge nos Bordados de Castelo Branco provavelmente por influência oriental. É um motivo comum nos bordados indo-portugueses, em tecidos lavrados e estampados, na talha barroca dos altares, na pintura de brutescos, nas faianças, nos trabalhos em ferro, ilustra manifestações heráldicas, ao trazer um coração trespassado por setas é alusivo à ordem de Santo Agostinho.
  • A duplicação da cabeça exprime o reforço da sua autoridade mais do que real, soberania verdadeiramente imperial. Na religião cristã simboliza a Ressurreição.
  • As figuras humanas surgem em espécimes de composição simples, isoladas ou em pares, relacionadas com os sentidos do tato, do olfato e da audição. Nas situações personificadas por uma mulher e um homem observa-se uma nítida interação entre o casal. De modelo para modelo não se verifica qualquer alteração significativa na indumentária, que mantém o gosto do século XVIII.
  • coração, motivo predileto no âmbito das artes tradicionais, entre o religioso e o profano, tem-se mostrado no peito das águias bicéfalas ou em harmonia com outros elementos.
  • Na tradição moderna identifica-se com o amor profano, a caridade enquanto amor divino, a amizade, a retidão. A concha marca a sua presença no Bordado especialmente nos remates das molduras do medalhão central e nas bissetrizes dos cantos.
  • laço serve de ornamento às molduras do medalhão central ou a atar os pés de um ou de outro ramo, sugere a obrigação querida livremente pelas diferentes partes que se sentem unidas entre si, representa a adesão voluntária.

Não se esqueça de fazer uma visita ao Centro Interpretativo do Bordado de Castelo Branco!


Boas Costuras!


Fonte: Paulo Lemos e Silva - "Bordados Tradicionais Portugueses". Tese de Mestrado, Universidade do Minho,  2006. www.cm-castelobranco.pt. 

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